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Mulheres que não querem ser mães


Para fechar esse mês das mães, viemos com uma reflexão bem importante sobre as escolhas que uma mulher toma em sua vida. Ser mãe é um dos papéis mais impostos sobre as mulheres. Não é à toa que desde crianças somos ensinadas a sermos mães. Pense na vinda de uma criança ao mundo, durante a gestação, várias expectativas são impostas. Lá pelos 3 meses vem o chá revelação e dali dois mundos totalmente diferentes e opostos são designados, a imagem do ultrassom definirá se a criação será de um opressor ou um oprimido. Se o feto for do sexo feminino, o mundo rosa vem embalado

em lindos pacotes de misoginia. Se for masculino, o mundo é pouco para ele dominar, vai ter que dominar as mulheres também. Na infância, a menina será estimulada a brincar de casinha, sendo a mamãe das bonecas e dona do lar, brincando de lavar vasilha e varrer a casa. Anos depois, crescemos e nossa menstruação chega e a única explicação que os dão é que nosso corpo está se preparando para ter uma gestação, mesmo que a medicina já fale sobre como a menstruação atua para além da gravidez. Chegamos à vida adulta com o capital cultural formado para ser mãe, corpo feito para isso e a espera de todos ao nosso redor que o grande momento chegue. Daí em diante a vida da mulher é toda pautada em conhecer um homem, se casar e logo ter seus filhos. Esse mecanismo descrito é a tradução do método da maternidade compulsória, que é a moral que nos educa a sermos mães. Nenhuma de nós está livre dela, seja para segui-la ou para desviar-se dela. A maternidade é sempre um delimitador da vida feminina.



Um fato curioso que se molda na sociedade no tempo em que vivemos é que a moral sexista compartilhada vê na mulher essa obrigação de ser mãe enquanto a nega todas as oportunidades de exercer a maternidade com dignidade. O capitalismo que exaure cada dia mais os direitos trabalhistas tão poucos já conquistados não está em consonância com essa moral. Afinal, como exigir de uma mulher que ela seja mãe em uma sociedade que tem medo de contratar mulheres justamente pela possibilidade de ela ser mãe e depois ter que pagar uma licença maternidade? Isso quando essa mulher está contratada com a carteira assinada, mas pensemos nas muitas brasileiras que trabalham informalmente como querer ser mãe estará entre seus planos sem que ela tenha condições materiais para tal.


Não querer ser mãe envolve também essa questão anterior da construção do querer ser mãe, as disposições sociais e culturais que elaboram a moral social imputadas sobras às mulheres e à viabilização ou não dos meios materiais para a efetividade da maternidade.


No Brasil, 37% das mulheres não querem ser mães, segundo o jornal O tempo. Esse número mostra como a maternidade não é um caminho natural para todas as mulheres. A maternidade não é sinônimo de felicidade tão pouco de realização na vida. Enquanto não enxergarmos a mulher como completa em si, estaremos perpetuando o discurso da maternidade compulsória.


Para quem se interessou um pouco mais no tema, deixo essa recomendação de vídeo para vocês assistirem.



Ester Souza Monteiro


Ciências Sociais - UFMG


 

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