Antes da década de 1980, os desenhos animados de aventura e ação não eram necessariamente ligados ao gênero, mas apresentavam, majoritariamente, protagonistas masculinos. A participação de mulheres era limitada e elas, geralmente, representavam um interesse amoroso, eram frágeis e precisavam ser salvas. Se um conjunto só de mulheres existisse, era como Josie e as Gatinhas, um show mais musical e menos voltado para a ação ou fantasia.
Na década de 1980, entretanto, as animações ocidentais começaram a introduzir programas apresentando elencos liderados principalmente por mulheres, onde garotas com poderes mágicos se uniam para salvar o dia. She-Ra deu tom aos anos 80. Sailor Moon e As Meninas Superpoderosas representaram os anos 90. E os anos 2000 contaram com as fadas do Winx Club e As Três Espiãs Demias, por exemplo.
Com os desenhos animados pudemos dizer às meninas que elas também podem fazer qualquer coisa: combater os bandidos, exercer poderes mágicos, embarcar em suas próprias histórias e, o mais importante, fazer isso com seus melhores amigos. No entanto, ressalta-se que ainda existem poucas mulheres nas produções das animações. Essa panorâmica exclui e omite perspectivas femininas.
Rebecca Sugar, criadora de Steven Universe, por exemplo, é primeira e única mulher criadora independente no Cartoon Network. Esse desenho tece uma representação ímpar de sexualidade e gênero. Como na vida, todas essas coisas simplesmente estão lá. Steven Universe ainda não significou uma mudança resultante em toda indústria de animação, mas com certeza tornou-a mais diversa e mais inclusiva. E é um lembrete constante que temos que percorrer um longo caminho enfrentando desigualdades.
Rebecca Sugar e personagens da animação "Steven Universe"
As crianças dos anos 2000, principalmente, cresceram com importantes personagens femininas que as faziam companhia na hora do almoço. Quem lembra de passar a manhã acompanhando as aventuras de Clover, Alex e Sam? As três meninas que tinham uma vida
dupla, em que ora eram estudantes e viviam os dramas da adolescência, ora eram grandes espiãs trabalhando em missões complexas pra salvar as pessoas.
Junto desse trio havia outro, as Meninas Super Poderosas, Lindinha, Florzinha e Docinho eram um deleite pra todas nós durante nossas folgas. Cada uma
com uma personalidade única e demonstrando muita força e liderança. Enfrentando desafios para salvar a cidade ou então ensinando a importância da amizade e do amor entre irmãs, as meninas super poderosas fizeram e ainda fazem seu papel no imaginário de sucessivas gerações.
Além delas, outra importante personagem que acompanham uma geração de meninas no horário do almoço foi Kim Possible, outra personagem em que ora tinha uma vida comum, outrora estava solucionando crimes e salvando a cidade. Numa mistura de relação com a família, com os amigos, na escola e um melhor amigo que vira, posteriormente, seu crush.
É natural que quase todas as crianças se espelhem em alguém quando começam a tomar noção de suas próprias decisões e ações, por isso, na maioria das vezes, começam a agir de maneira parecida com seus personagens favoritos. Os desenhos desempenham um grande papel na formação de crianças, influenciando seu comportamento e sua convivência em sociedade desde cedo.
Desta forma, é imprescindível que os desenhos animados retratem com verossimilhança e com representatividade a nossa sociedade. Meninas devem conseguir se identificar com personagens femininas, devem sentir que também podem conduzir suas próprias narrativas e que também podem desempenhar posições de destaque e de força, e não apenas posições de fragilidade, sensibilidade e romantismo.
É importante que estejam em contato com animações que quebrem as noções de papéis predeterminados de gênero, mostrando aos seus espectadores mirins que eles podem ser o que quiserem e que também podem exercer as mais diversas funções além do que é definido socialmente. Meninos também devem presenciar esses conteúdos, para que construam um imaginário mais completo e respeitoso acerca de meninas e mulheres, instruindo-os sobre igualdade de gênero com antecedência.
A representatividade é necessária para a construção de autoestima, personalidade, confiança e empoderamento das meninas. Além do ideal de gênero, ainda existe a problemática dos padrões estéticos presentes nos desenhos, como mulheres brancas, magras, loiras e dos olhos claros. Crianças dos anos 90 e 2000 cresceram com pouquíssimas personagens negras, e as poucas que existiam, em sua maioria, não eram as protagonistas. É por esse motivo que cada dia mais manifesta-se a urgência de representar todas as meninas das mais diversas formas nos desenhos atuais.
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