Mulheres na Arquitetura e Urbanismo
- Lidera UFMG
- Apr 19, 2021
- 6 min read
Updated: May 3, 2021
A divisão sexual do trabalho, durante séculos, permitiu que a mulher ocupasse apenas espaços domésticos. Durante esse tempo, cidades e edificações, de modo geral, foram projetadas sob perspectivas de homens, sobretudo, brancos, heterossexuais e de estratos sociais mais ricos. Essa panorâmica excluiu e omitiu as necessidades das parcelas mais vulneráveis da sociedade, além de ter condicionado boa parte da vida cotidiana dos habitantes desses ambientes.
As mulheres foram introduzidas aos estudos arquitetônicos somente no século XX. Ressalta-se que a presença de mulheres na Arquitetura e no Urbanismo foi um grande passo para alcançarmos uma sociedade mais justa e igualitária. Contudo, ainda não significou uma mudança resultante em uma prática arquitetônica mais diversa e inclusiva, de forma que ainda há um longo caminho até alcançarmos essa realidade.
O trecho a seguir foi retirado do livro Feminist City da Leslie Kern. Ela é professora associada de Geografia e Meio ambiente e diretora de estudos femininos e de gênero na Mount Allison University. A passagem descreve como as cidades não consideram a vivência de mulheres.
"A maioria dos sistemas de transporte público urbano, por exemplo, é projetada para acomodar o trajeto normal na hora do rush de um trabalhador de escritório das 9h às 17h. O pouco trânsito que existe nos subúrbios é projetado para transportar esse viajante em uma direção específica em um momento específico, uma viagem linear sem desvios ou múltiplas paradas. E isso tem funcionado muito bem para o viajante normal.
Mas a pesquisa mostra que os deslocamentos das mulheres costumam ser mais complexos, refletindo os deveres em camadas e às vezes conflitantes do trabalho remunerado e não remunerado . Uma mãe com dois filhos pequenos pode usar o ônibus local para deixar uma criança na creche quando ela abre às 8h, e então voltar em sua jornada para deixar a outra criança na escola às 8h30. Ela então pode pegar o trem, correndo para o trabalho às 9h. Imagine que, no caminho para casa, a jornada é revertida, com uma parada extra para pegar os ingredientes que faltam para o jantar e um pacote de fraldas. Agora carregada de pacotes, um carrinho e uma criança, ela luta para voltar para o ônibus lotado para finalmente voltar para casa. Muitos sistemas de transporte vão forçá-la a pagar várias vezes por esta viagem e pelos filhos também.
[...] Em suma, os corpos das mulheres ainda são frequentemente vistos como fonte ou sinal de problemas urbanos. No entanto, a realidade é que as mulheres têm muito mais probabilidade de sofrer com a estrutura da cidade do que os homens. A ameaça constante e de baixo grau de violência combinada com o assédio diário molda a vida urbana das mulheres de inúmeras maneiras. Assim como o assédio no local de trabalho afasta as mulheres de posições de poder e apaga suas contribuições para a ciência, a política, a arte e a cultura, o espectro da violência urbana limita as escolhas, o poder e as oportunidades econômicas das mulheres".
Você se identificou ou conhece alguém que se identificaria com alguma situação descrita anteriormente? Acreditamos que sim.
Experienciamos a Arquitetura e o Urbanismo a todo momento. Por isso, não só as projetistas são importantes para a processo de construção dos ambientes, como as teóricas também são. É importante incluirmos, discutirmos e valorizarmos as profissionais dessas áreas. Elas são parte de um movimento de luta contra o sexismo estrutural imposto em nossa sociedade, como também contra a limitação de nossos direitos de caminharmos, trabalharmos, nos divertirmos e ocuparmos espaços da cidade, por exemplo, enquanto mulheres.
O Coletivo Arquitetas Invisíveis é "uma ação que busca promover a igualdade de gênero dentro do âmbito da arquitetura e do urbanismo, por meio do reconhecimento e divulgação da vida e obra de arquitetas desprestigiadas pela história. Em seus estudos, elas identificaram também os benefícios da participação das mulheres na arquitetura e no urbanismo para toda a população, e é essa a história que elas vão compartilhar com a gente".
Vale muito a pena conferir o TEDx que elas desenvolveram. O vídeo está disponível logo abaixo:

Imagem retirada do Instagram @arquitetasinvisiveis. Lançamento da exposição "Arquitetas Invisíveis", em Brasília. Novembro de 2014.
O Arquitetas Invisíveis também produz uma revista sensacional e muito completa. De acordo com o próprio site do coletivo, a revista Arquitetas Invisíveis nasce da vontade de compartilhar conhecimento e reflexões, além de contribuir para o avanço das discussões de gênero no campo da arquitetura e áreas relacionadas. É uma forma de abrir oportunidade para divulgação de trabalhos de pessoas que abordam o tema de gênero na arquitetura, sendo aberto também às trocas disciplinares, acolhendo contribuições de campos diversos, dentro os quais a História, a Geografia, a Sociologia, a Antropologia, as Artes, a Psicologia, entre outros.
Outro projeto muito importante é o Arquitetas Negras. Para gerarem visibilidade à produção de arquitetas negras brasileiras, a mineira Gabriela de Matos e a recifense Bárbara Oliveira idealizaram, em 2018, o projeto “Arquiteta Negras”. O objetivo dessa iniciativa é mapear a produção dessas arquitetas e criar uma plataforma tanto para pesquisa quanto para contratação, para diminuir a desigualdade racial e de gênero na Arquitetura. A primeira ação para alcançar essa meta é a publicação da Revista Arquitetas Negras vol. 1, a primeira revista com conteúdo pensado e produzido por arquitetas negras brasileiras. Você pode conhecer mais e contribuir com as informações do vídeo abaixo:
O projeto Arquitetura na Periferia "visa a melhoria da moradia para mulheres da periferia, por meio de um processo onde elas são apresentadas às práticas e técnicas de projeto e planejamento de obras e recebem um microfinanciamento para que conduzam com autonomia e sem desperdícios as reformas de suas casas. Ao invés de oferecer um produto, buscamos favorecer a autonomia das participantes, ampliando sua capacidade de análise, discussão, prospecção, planejamento e cooperação, o que por fim leva a um aumento de sua autoestima e confiança".
De acordo com o site do projeto, ele teve início em 2013 durante a pesquisa de mestrado da arquiteta Carina Guedes na Escola de Arquitetura da UFMG. Entre 2015 e 2017 o trabalho teve continuidade dentro da ASF-Brasil (Arquitetas Sem Fronteiras), uma associação sem fins lucrativos localizada em Belo Horizonte/MG. No ano de 2018, com o crescimento do projeto, o Arquitetura na Periferia se formalizou através da criação do Instituto de Assessoria à Mulheres e Inovação, o IAMÍ. Hoje elas buscam desenvolver novos projetos que visam a equidade de gênero e o combate às desigualdades sociais.
Para conhecer e apoiar o projeto Arquitetura na Periferia, dê uma olhadinha no vídeo a seguir:
Há também o Coletivo EAD das Minas. O coletivo "é composto e gerido por alunas da Escola de Arquitetura e Design da UFMG, que se oficializou em 2016 devido a necessidade percebida por um grupo de mulheres de ter um espaço de discussão e construção do pensamento feminista dentro da universidade. O grupo tem como um dos objetivos a expansão da discussão e a problematização da questão das mulheres tanto no espaço acadêmico e profissional, quanto no âmbito da cidade". Vale super a pena conferir o Instagram e o drive de materiais delas.
A professora Raquel Garcia Gonçalves também é uma referência no assunto. Ela é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutora em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - IPPUR/UFRJ. Ela é professora Associada do Departamento de Urbanismo da Escola de Arquitetura da UFMG e professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (NPGAU) da UFMG.
No vídeo abaixo, feito pela TV UFMG, ela destaca a importância de vocalizar o sujeito que está envolvido no processo de construção da cidade. Tudo a ver com o que discutimos com no post de hoje.
A Ana Clara Mourão Moura também é referência em sua área de atuação. Ela é professora da Universidade Federal de Minas Gerais e possui graduação em Arquitetura e Urbanismo, especialização em planejamento territorial e urbano, mestrado e doutorado em Geografia. Ela foi medalhista do mérito cartográfico pela Sociedade Brasileira de Cartografia (Grau de Cavaleiro) e foi indicada como uma das 5 personalidades da década em Geoprocessamento (MundoGeo).
Já a Natália Dário Mendes Barros é graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais e destacou-se por apresentar um dos melhores trabalhos de conclusão de curso do selecionados pelo ArchDaily em 2020. Olha que demais!!!

De acordo com a publicação do site ArchDaily, a performance foi um experimento de (des)ajuste do corpo à arquitetura, em um misto de deriva, desvio e desconforto. A intenção era subverter as funções da casa, rompendo com os signos normatizantes e provocando outras apropriações possíveis. Quatro câmeras foram conectadas simultaneamente a um a aplicativo de videoconferência e transmitidas ao vivo para o YouTube. Os enquadramentos formam planos que se cruzam no espaço, acompanhando o movimento do corpo. Confira o trabalho completo aqui e no Instagram do projeto.
Esperamos que vocês tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre a Arquitetura e Urbanismo, como também de alguns projetos e acadêmicas da área. Caso você tenha sugestões, compartilhe conosco nos comentários dessa publicação :O)
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