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2ª e 3ª ondas do feminismo

Updated: Mar 15, 2021

A segunda onda de feminismo inicia-se com o livro "A Mística Feminina", de Betty Friedan, lançado em 1963. Em apenas três anos, foram vendidos mais de 3 milhões de exemplares.


O livro se popularizou por criticar o sexismo estrutural. As mulheres eram ensinadas [e muitas ainda são] que os seus lugares era em casa trabalhando com tarefas domésticas. Se elas eram infelizes com isso, era porque elas estavam erradas.


Em 1973, em um artigo para o New York Times, a autora comentou “Achei que havia algo de errado comigo porque não tive um orgasmo encerando o chão da cozinha”.


Você pode conferir o artigo na íntegra aqui. Ele está em Inglês, mas é facinho de traduzir. Basta ativar o modo de tradução do Google Chrome.


Porém, o livro defendeu que a culpa não era das mulheres, mas sim da sociedade que se recusava a permitir que elas exercessem suas liberdades de escolhas e aptidões intelectuais, por exemplo.


Na década de 60, o feminismo já era bastante discutido por acadêmicos e intelectuais feministas. Ressalta-se, porém, que a revolução que "A Mística Feminina" obteve foi através do seu alcance. O livro chegou às mãos de muitas donas de casa, principalmente, mulheres brancas da classe média estadunidense, as "belas, recatadas e do lar". A partir daí, o feminismo da segunda onda passou a ser cada vez mais discutido.


A segunda onda lutou para que mulheres tivessem o direito de possuírem cartões de crédito com o próprio nome e solicitar hipotecas, por exemplo. Em 1963, as mulheres estadunidenses conquistaram TEORICAMENTE a "Lei de Igualdade Salarial". Uma série de casos na Suprema Corte nos anos 60 e 70 deram às mulheres o direito de usar o controle de natalidade e Título IX deu às mulheres o direito à igualdade educacional. Em 1973, o caso "Roe vs. Wade" garantiu às mulheres o direito ao aborto ou interrupção voluntária da gravidez, nos Estados Unidos.


Movimento de libertação das mulheres em Washington, DC, 26 de agosto de 1970 por Don Carl Steffen


É importante pontuar que a segunda onda feminista foi, sobretudo, experienciada por mulheres brancas de classe média. Mulheres negras, de modo geral, não se preocupavam em ganhar o direito de trabalharem fora de casa, por exemplo, porque muitas delas já faziam isso. Enquanto, as mulheres brancas e negras defendiam a liberdade reprodutiva, as mulheres negras também lutavam pelo fim da esterilização forçada.


Mapa de esterilização eugênica dos Estados Unidos, 1935; de The Harry H. Laughlin Papers, Truman State University

Segundo este artigo do Estado de Minas "os pesquisadores analisaram relatórios do Conselho de Eugenia da Carolina do Norte por apenas uma década, de 1958 a 1968, período em que foram realizadas 2.100 esterilizações. Eles descobriram que a taxa de esterilização naqueles anos era muito maior nos municípios com o maior número de residentes negros desempregados. Esse padrão não foi repetido em outros grupos populacionais, mesmo que eles vivessem nas mesmas condições, 'sugerindo que o programa eugênico considerava apenas a população negra inferior'.


Leis estaduais permitiam a prática da eugenia até 1979 nos Estados Unidos. Para entender mais sobre esse assunto, recomendamos a leitura desse artigo da BBC.


Nesse contexto, o feminismo negro cresceu enquanto um movimento independente. O movimento de mulheres é atuante tanto na esfera da discussão de gênero quanto na luta anti-racista. Para tanto, recomendamos a leitura de "Não sou mulher? Mulheres Negras e Feminismo", livro escrito por bell hooks e também de "Quem tem medo do feminismo negro?" livro de Djamila Ribeiro.


Ressalta-se que na década de 1980, o feminismo da segunda onda perdeu sua força com o estabelecimento do governo conservador de Ronald Reagan.


Já a terceira onda do feminismo teve como contexto social as conquistas advindas da segunda onda, ou seja, com a melhora econômica e maior presença de mulheres em cargos de liderança.j Junto a isso, nas últimas duas décadas do século XX, as mulheres da Geração X estavam começando sua carreira acadêmica e se organizando para estabelecer novas bandeiras e lutas para o movimento feminista.


As mulheres da terceira onda eram filhas ou foram criadas pelos ideais construídos pela segunda onda. Essas meninas cresceram sendo empoderadas pelas mães e pelas mulheres da época.


Apesar disso, a terceira onda traz para o feminismo novos debates e se opõe e evidencia suas criticas sobre as ondas anteriores. Uma marca dessa nova era é a discussão sobre sexualidade e gênero, tendo como uma das principais autoras Judith Buttler e o conceito Queer. Nesse novo pensamento feminista é necessário repensar e questionar a sexualidade, entender como o patriarcado impõe a heterossexualidade compulsória e oprime o desejo sexual feminino, colocando no centro da relação apenas o prazer masculino.


Em contrapartida aos estereótipos vigentes até então, a terceira onda define as mulheres e garotas como assertivas, poderosas e no controle da própria sexualidade. Para reforçar esse paradigma novas estrelas que emergiam, como Queen Latifah, Madonna e Mary J. Blige. E também as séries de sucesso como Sex & The City.


Queen Latifah (à esquerda), Madonna (meio) e Mulan (à direita)


Mas não só no entretenimento para adultos que a figura feminina começou a ser representada em lugares de poder, nas animações e histórias da Disney, tivemos personagens como Mulan e Violet (Os Incríveis), as quais representaram mulheres heroínas e independentes.


A expressão "Girl Power" se deu como popular e até hoje está presente no mainstream para retratar as mulheres.


Contudo, assim como todo movimento social, a terceira onda do feminismo foi palco de desentendimentos e críticas sociais e das representantes das ondas anteriores. Em algumas discussões era colocado em pauta se a liberdade sexual feminina pregada pelas integrantes da nova vertente era de fato liberdade ou mais um reflexo do poder patriarcal no corpo feminino. Além disso, os estereótipos de feminilidade, antes recusador e amplamente criticados, na terceira onda encontraram um local de legitimação. Maquiagem, vestidos e o salto alto não eram mais vistos como algo opressor ou mandatório, mas sim uma opção das mulheres que usavam com o intuito de se sentirem mais bonitas ou empoderadas.


De todo modo, apesar das críticas, é inegável que a terceira onda trouxe para o movimento uma posição mais plural e multifacetado, acolhendo mulheres negras, latinas, por exemplo, como também de diferentes posições sociais e com diferentes interesses.

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